22 anos após o famoso match pelo Campeonato Mundial jogado em Londres, no ano de 1993, Kasparov e Short voltarão a medir forças, desta vez de forma bem mais amistosa.
Ambos disputarão um match de blitz e partidas rápidas, dias 25 e 26 de abril em Saint Louis, a meca do xadrez americano. Serão disputadas uma partida rápida (25 minutos e 10 segundos de "delay") e 4 partidas de blitz ( 5 minutos com 3 segundos de "delay").
Para quem não conhece, o sistema de "delay", ao que me consta, garante emoção maior do que o mais utilizado sistema de acréscimo. No delay o jogador não ganha tempo extra: depois que o tempo normal acaba, ele ganha um bônus, não cumulável. Como diria o outro: "é teste pra cardíaco!".
O match pelo campeonato mundial que eles jogaram em 1993 foi histórico não pelo resultado ou pela qualidade do jogo: Kasparov ganhou com facilidade, por 12,5 a 7,5, mesmo ficando perdido em várias partidas na sua predileta Najdorf. O que fez história foi, primeiro, o fato de que Short eliminou naquele ano ninguém menos que Anatoly Karpov no ciclo de candidatos. Lembro, como adolescente de 13 anos fanático por xadrez, como essa derrota do meu ídolo me surpreendeu. Naquela época ainda parecia que Karpov só podia ser derrotado por Kasparov.
Além disso, e mais marcante ainda, foi o fato de Kasparov e Short terem rompido com a FIDE naquele ano, fundando uma associação paralela. Isso acabou com o ciclo clássico de campeões mundiais, criando uma situação caótica no mundo do xadrez, que demorou muitos anos a ser consertada. Talvez esta tenha sido uma das piores jogadas já feitas por Gary e Nigel no tabuleiro da vida.
Mesmo sendo um encontro amistoso, tenho certeza que sairá faísca do tabuleiro. Todo enxadrista é, por natureza, extremamente competitivo. Kasparov então, mais ainda. Ele exala energia. Lembro que nas ocasiões em que tive a chance de conversar com ele a sensação era que estava o tempo todo em máxima concentração. O mesmo não ocorre com Short, que já tentou até mesmo explicar para mim e Milos, em Nova Delhi, o conceito de empate teórico em uma partida de cricket. O inglês é bem mais amigável, apesar de sua natureza excêntrica. E, verdade seja dita, esta é talvez a melhor chance que já teve (ou terá) de vencer uma disputa contra o mítico GK. Afinal Short ainda joga profissionalmente, enquanto Gary já está retirado e tem se mostrado mais preocupado com sua oposição ao governo Putin do que com o tabuleiro de xadrez.
Os verdadeiros vencedores seremos nós, espectadores, que teremos a chance de acompanhar essas duas lendas em ação, ao vivo, em partidas que prometem muito drama.
Fonte: http://academiarafaelleitao.com/
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